CHAMADA PARA PUBLICAÇÃO
VOLUME 18:

A MATERIALIDADE E OS SENTIDOS: SABERES ENCARNADOS E MÉTODOS EXPERIENCIAIS NO MUNDO HISPÂNICO
Durante muito tempo, as epistemologias ocidentais modernas privilegiaram certas formas de perceber o mundo em detrimento de outras: a mente sobre o corpo, a visão sobre o tato, o paladar e o olfato, e a cognição sobre o sentimento. Essa hierarquia sensorial—baseada na filosofia grega antiga—representa o olfato, o paladar, e o tato, isso é, os chamados sentidos “menores”, como sentidos primitivos e corporais. Essa atitude frequentemente acaba na racialização e desvalorização dos sistemas e saberes não ocidentais que dependem deles. Pesquisadores como Constance Classen, David Howes, e David Sutton demostraram que a insistência moderna na abstração e o textualismo deslocou saberes mais encarnados, sensoriais e experienciais. Do mesmo jeito, privilegiar o intelecto em detrimento as experiencias sensoriais resultou na marginalização de disciplinas e metodologias inteiras nas ciências sociais e as humanidades, como os estudos do som e do tato, a memória encarnada, a aprendizagem experiencial, as etnografias sensoriais, entre outros.
Uma guinada em direção aos saberes encarnados e à experiência material nas últimas décadas tem iniciado uma mudança nessas tendências na academia. Com o ressurgimento de campos como a antropologia sensorial e o crescente interesse interdisciplinar no afeto, o performance, e a cultura material, os pesquisadores acadêmicos começaram a perguntar-se: Como os sentimentos afetam a produção do sentido? Como o conhecimento é produzido no corpo? O que acontece quando levamos a sério o tato, o paladar, o olfato, ou a experiência espacial como objetos e/ou métodos de estudo?
Neste volumem de Brújula, intitulado “A materialidade e os sentidos: saberes encarnados e métodos experienciais no mundo hispânico”, buscamos contribuições que dialoguem com essas perguntas a partir do estudo de práticas culturais, produtos, e processos na América Latina e na Península Ibérica. Daremos destaque a submissões interdisciplinares nas humanidades e as ciências sociais que abordem o papel dos sentidos, da corporalidade e da materialidade, seja como objeto de análise ou como lente metodológica. Serão benvindas propostas que explorem questões como: Como as obras literárias e artísticas da América Latina e da Península Ibérica representam a experiência sensorial e/ou interagem com o corpo como lugar de produção de conhecimento? De que maneira a produção cultural (literatura, filme, performance, artes visuais) dessas regiões resiste o reimagina hierarquias sensoriais ocidentais dominantes? Como a memória sensorial é evocada em narrativas de deslocamento, migração, ou violência política? Como os sentidos funcionam como veículos de memória, identidade, ou resistência na literatura e em outros tipos de produção cultural?
Tema possíveis incluem (mais não se limitam a):
- Trabalho de campo e etnografias sensoriais
- O paladar, o olfato e a memória encarnada
- Foodways e práticas culinárias
- Médios táteis e artes materiais
- Performance, ritual e afeto
- Paisagens sonoras (soundscapes) e ambientes acústicos
- Saberes encarnados na dança, no trabalho ou no ritual
- Histórias e arquivos sensoriais
- Métodos practice-based, multimodais ou experienciais
Convidamos pesquisadores das áreas de antropologia, literatura, história, sociologia, estudos culturais, história da arte, arqueologia e disciplinas afins a submeter propostas que explorem como a materialidade e os sentidos desafiam os limites do conhecimento acadêmico.
Brújula convida as colaborações dos seguintes gêneros acadêmicos:
- Artigos acadêmicos (15–20 páginas)
Serão aceitos artigos originais e inéditos que apresentem pesquisas acadêmicas rigorosas relacionadas com o tema da edição. Os textos devem conter uma argumentação clara, um referencial teórico bem definido e diálogo com fontes primárias e secundárias relevantes. Serão especialmente valorizadas propostas interdisciplinares e aquelas que ofereçam novas perspectivas sobre o mundo hispânico. - Análises historiográficas (15–20 páginas)
Esta seção é dedicada a estudos que analisem criticamente a evolução de um campo temático, autor, período ou questão dentro da historiografia do mundo hispânico. Espera-se uma reflexão profunda sobre os enfoques metodológicos, correntes teóricas e debates acadêmicos que moldaram a produção de conhecimento sobre o tema. - Intervenções pedagógicas (10–15 páginas)
Convidamos docentes e pesquisadores a compartilhar experiências pedagógicas inovadoras relacionadas ao ensino de línguas, literatura, história ou cultura hispânica. Estas contribuições podem incluir estudos de caso, reflexões críticas sobre metodologias, uso de tecnologias ou abordagens sensoriais e materiais em sala de aula. - Artigos acadêmicos breves (6–10 páginas)
Esta categoria é destinada a reflexões teóricas ou análises de caso mais concisas, mas igualmente rigorosas. Podem incluir avanços de pesquisa, notas críticas sobre materiais específicos ou propostas metodológicas centradas em temas relacionados à materialidade, aos sentidos ou ao conhecimento incorporado. - Entrevistas (6–10 páginas)
Serão aceitas entrevistas com acadêmicos, artistas, escritores ou ativistas cujas trajetórias dialoguem com as temáticas da edição. As entrevistas devem incluir uma breve introdução que contextualize a figura entrevistada e sua relevância para os estudos hispânicos. - Resenhas de livros (3–4 páginas)
Aceitam-se resenhas críticas de livros recentes (publicados nos últimos 3 anos) que contribuam para o debate em torno da materialidade, dos sentidos ou de metodologias experienciais em contextos hispânicos. Será valorizada a capacidade de situar a obra no panorama acadêmico e discutir suas contribuições, limitações e possíveis aplicações. - Textos criativos
Esta seção inclui poesia, narrativa breve, ensaio pessoal, crônica ou formas híbridas e experimentais que abordem, de forma criativa e reflexiva, a relação entre corpo, percepção, memória e materialidade. Os textos podem ser apresentados em espanhol, português ou inglês e devem vir acompanhados de uma nota do autor/a (de até 1 página) que situe o texto em relação ao tema da edição. - Arte visual
Serão aceitas propostas de fotografia, ilustração, colagem, instalação, performance ou outros formatos visuais que dialoguem com as sensorialidades, a materialidade e o corporal em contextos do mundo hispânico. As obras devem ser enviadas em alta resolução (300 dpi, .pdf o .jpg) e acompanhadas de uma breve descrição ou reflexão (300-500 palavras) sobre o conceito e o processo criativo.
Submissões:
- Envie seu texto acompanhado de uma carta de apresentação que inclua uma breve nota profissional (com seu nome, afiliação acadêmica e título [estudante de pós-graduação, doutorado, professor assistente, professor, etc.], instituição, interesses de pesquisa, e/ou algumas publicações relevantes), o título do artigo e um resumo de 200 palavras. Se você estiver enviando um texto criativo, envie os documentos necessários acima.
- Para manter anônima a sua solicitação durante o processo de seleção, os manuscritos devem ser apresentados sem nomes. Os nomes e endereços de e-mail devem aparecer só na carta de apresentação.
- Aceitarão-se únicamente textos escritos em espanhol, inglês ou português, em espaço duplo, incluindo notas finais e bibliografia.
- As normas de redação deverão ser as da última edição do MLA Style Manual and Guide for Scholarly Publishing.
- Contate-se com os editores para as normas de utilização de gráficos, diagramas, mapas, fotos e ilustrações de arte. O autor é responsável pelas autorizações correspondentes para sua reprodução.
- Brújula só aceitará contribuições originais. Não se aceitarão traduções ou cópias de artigos já publicados.
- Os originais não serão devolvidos.
Envie seu texto a brujula@ucdavis.edu
antes de 15 de setembro de 2025